Se toda a minha vida pudesse ser a resposta para uma pergunta, ela seria: “Como eu me torno artista?” Desde criança, eu ansiava por este vir a ser. E, como muitas e muitos, apesar de ouvir e entender o pedido claro da alma, me desviei um tanto do caminho.

 

São diversas as armadilhas do mundo que tentam nos fazer caber num formato. Assim, vivi por muitos anos numa espécie de isolamento. Em parte, coisa natural dos “avoados” - e, em parte, uma caverna longínqua destinada aos que não cabem muito bem no “formato”. Na vida de fora, eu passeava, namorava, trabalhava – e muito! – sustentando uma rotina desalinhada dos meus ritmos, desejos e modos de ser. Foram doze anos em bloqueio criativo, período no qual eu não conseguia mais desenhar nenhuma linha. Fiquei pensando: “Onde foi que eu perdi minha criatividade?” Se é que isso é coisa que se perca.

 

O tempo passou e aquela que queria tornar-se artista teve que primeiro tornar-se mulher, depois mãe - e então encontrar de volta o caminho da artista. Nesse processo de resgatar algum tesouro que deixamos pra trás, descobri que é impossível retomar do mesmo ponto. Ganhamos muitas camadas de pele e bagagem tentando encontrar saída para os labirintos. É quando você percebe que perder-se fazia parte do destino que o faria tornar-se quem é. Não existe desvio. Tudo é caminho.

Encontrei o fio. Entendi que precisaria crescer para a tarefa. E a pergunta inicial se expandiu em “Como eu apoio outros seres para se tornarem artistas?” Toda a minha biografia, a partir desse ponto, tem sido uma afirmação da arte como caminho.

​